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10 de janeiro de 2011

Lucro, Cópias chinesas e o Ritual

O termo Novo Mundo é um termo recente no mercado. Nosso continente não tinha sido nem ao menos descoberto quando europeus já cultivavam vinhas e comercializavam vinhos, entretanto nosso approach ao mercado é similar – em alguns casos, idêntico – ao usado por esses países, nos quais o vinho está enraizado na cultura dos consumidores. O resultado disso é um produto europeizado, sem identidade, soando como mais do mesmo e o pior: não fazemos uso de todas as possibilidades e oportunidades que pertencer ao Novo Mundo nos traria.
            Os “sacerdotes do vinho” se sentem bem ao manter seus rituais em torno de uma garrafa, elitizando a bebida e mantendo para si os privilégios de serem reconhecidamente “especialistas” no assunto, e enquanto medalhas e rótulos são distribuídos por estes, a nossa singularidade gustativa é ignorada, e o fato de eu não gostar de algum vinho indicado pelo “sacerdote” é tido como incabível. Isso afasta o consumidor, pois o expõe ao ridículo caso ele pegue a taça com mais de dois dedos ou não beba o vinho do momento. Nem todos foram educados à francesa. Por melhor que seja o seu produto, a intimidação que vem sendo criada pelos “especialistas” certamente não está ajudando a aumentar as vendas dele.
            Não custa lembrar que: rituais e discursos puritanos a parte, uma vinícola é uma empresa, e uma empresa visa o lucro.

2 de janeiro de 2011

Nova classe média, Produção nacional sem foco no mercado e Argentinos

"O dinamismo da sociedade em que vivemos parece bater de frente com a ideia que o vinho nos trás."
É, no mínimo, curioso o fato desta bebida, que por sua própria natureza nos impõe a necessidade de tempo em todo o seu processo – do plantio à degustação – esteja presente na mesma sociedade dos downloads e do microondas, sociedade esta onde o almoço é sinônimo de deglutição e aguardar na fila do supermercado ou do cinema é o mesmo que um ataque de nervos.
Como é sabido, a maioria dos hábitos da grande massa vem de cima, isto é, da classe dos privilegiados, do topo da pirâmide, com o vinho não seria diferente e com uma crescente classe média ávida por incorporar o status deste às suas vidas, a indústria nacional jamais experimentou este fenômeno antes, o que resta aos produtores e gestores das vinícolas é “curtir” o momento. Restaria.
            Infelizmente – ou felizmente para outros – nossos vizinhos também se deram conta dessa nova sede brasileira por vinho e, desde então, somos invadidos por uma enxurrada de produtos importados e notícias sobre o aumento do consumo nacional, mas sobretudo não de – vinhos – nacionais. Neste quadro a habilidade e pioneirismo de argentinos, chilenos, uruguaios e tantos outros se tornam pontos favoráveis tanto quanto a miopia e falta de know how de alguns produtores – neste caso, favorável aos produtores internacionais, claro. Sem dúvidas nossa tão falada síndrome de vira-latas também entra na jogada.
            Sou cético quanto àqueles que falam de planejamento olhando para o passado, isto pode ser útil em alguns casos, mas perdemos tempo precioso olhando para o retrovisor quando poderíamos – e deveríamos – mirar o horizonte. Muito vem sendo feito para mudar a direção dos fatos, mas há ainda um bocado pela frente.